VIVAVOZ - UDESC

Dias 12, 14, 16, 19, 21, 23 de junho de 2013 no Palácio Cruz e Sousa, Florianópolis – SC

Coro e Orquestra Acadêmica da UDESC - Programa de Extensão VivaVoz

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC

SINOPSE


LA TRAVIATA
GIUSEPPE VERDI (1813-1901)

Libreto italiano de Francesco Maria Piave 
(baseado em A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas filho)

Estréia em 1853 em Veneza.


RESUMO
            Em Paris e seus arredores, ano de 1850.
            Ato I: Violetta, cortesã sustentada pelo barão Douphol, oferece uma grande recepção. Apresentam-lhe Alfredo, um jovem que a ama em segredo. Atacada por uma crise de tísica, ela se isola. Alfredo lhe declara seu amor. Perturbada, ela hesita em se comprometer.
            Ato II: Três meses se passaram. Violetta cedeu ao amor de Alfredo. Eles vivem felizes numa casa de campo. Mas Alfredo parte para Paris, a fim de acertar as dívidas de Violetta. Aparece o pai de Alfredo, Georgio Germont, que pede a Violetta que renuncie a seu filho para salvar a honra da família. Violetta aceita o sacrifício. Ao retornar Alfredo, ela se lança em seus braços chorando e parte sem nada lhe explicar. Ele recebe uma carta de adeus que interpreta como uma traição. Seu pai procura acalmá-lo, mas quando o jovem revê Violetta em Paris, enfurecido, atira-lhe no rosto o dinheiro que ganhou no jogo, como preço de sua estada no campo.
            Ato III: Violetta no último estágio da tuberculose encontra-se acamada e abandonada por todos. Nas ruas festejam o Carnaval. Ela fica sabendo que Germont revelou a verdade a seu filho. Alfredo chega e eles se lançam nos braços um do outro. Violetta sente-se reanimar, mas morre num último acesso, diante de Germont e Alfredo arrasados.

ANÁLISE – (um estilo eloquente e ousado, entre romantismo e verismo) Última parte da “Trilogia” verdiana,La Traviata é mais moderna que Rigoletto e que Il Trovatore. Sua originalidade deve-se primeiramente ao realismo do tema. Ao escolher levar à cena um tema contemporâneo em que uma prostituta atacada de tuberculose é alçada à dignidade de heroína trágica, Verdi demonstra uma grande audácia. Em vez de fazer o público sonhar com grandes afrescos históricos, fantasias mitológicas ou aventuras de capa e espada de importação anglo-saxônica, ele o remete a seu universo cotidiano e lhe apresenta um espelho pouco complacente. Alfredo e seu pai encarnam a burguesia do século dezenove, com sua frivolidade frouxa, seu moralismo mesquinho e cruel. Por oposição, Violetta, essa “traviata” que se sacrifica por amor quando está condenada pela doença e pela sociedade, suscita ao mesmo tempo a piedade e a admiração. Afastando-se da imagem aristocrática da ópera, La Traviata prefigura o verismo. Mas, contrariamente a Dumas, para quem a anedota importa menos que a tese moral e social que ilustra, Verdi privilegia o drama humano e a análise psicológica.

            A música de Verdi, de uma eloquência sutil e concisa, nos perturba sem pathos e sem ênfase. Ela transfigura o melodrama numa tragédia que conjuga a desmedida romântica e a minúcia realista, que descreve estados não apensa psicológicos mas físicos. Embora com uma grande unidade de tom e de forma, a partitura é extremamente nuançada e móvel. Já no prelúdio, Verdi anuncia os três grandes temas da obra, do mais grave ao mais leve: a morte, o amor, a vida mundana. Resume assim as três grandes etapas desse drama que nos leva da alegria artificial e ruidosa dos salões parisienses à intimidade desolada do pequeno quarto onde Violetta agoniza; a felicidade está entre os dois, representada pela casa de campo, espécie de paraíso onde o amor se expande, longe das coerções e dos preconceitos. Essa celebração do natural verifica-se na escrita vocal: mesmo nas passagens mais líricas, o canto se apresenta como uma tradução imediata do texto. Preocupado com a verdade e a expressividade, Verdi não recorre às ornamentações do bel canto, mas o recitativo é tão elaborado, tão rico de emoção que se assemelha às árias. Assim, no início, quando Alfredo confessa seu amor por Violetta, a passagem do recitativo à ária é imperceptível: “Di quell’amor, quell’amor ch’è palpito” (Desse amor que me comove). As duas grandes árias de Violetta, no primeiro ato (“Sempre libera”, Sempre livre) e no terceiro (“Addio del passato bei sogni ridenti”, Adeus belos sonhos sorridentes do passado), não são arias, mas os suspiros de uma alma que busca sua voz, o grito de dor de um ser humano atingido em sua carne No terceiro ato,  o canto se reduz àqueles cochichos entrecortados e furtivos que se ouvem à cabeceira dos moribundos, a fim de preparar a cena mais patética da ópera: a despedida de Violetta a Alfredo (“Amami, Alfredo”, Ama-me, Alfredo). Embora todas as personagens sejam fortemente caracterizadas (em particular Germont, cuja ária bastante convencional, no segundo ato, reflete o conformismo moral), a ópera é dominada pela heroína. O papel de Violetta exige uma grande plasticidade vocal e dramática: sob esse aspecto, a interpretação vibrante de Maria Callas permanece inigualável.
            Por suas inovações harmônicas, rítmicas, melódicas, La Traviata, que realizou a proeza de ser uma obra ao mesmo tempo muito popular e muito refinada, anuncia as grandes obras-primas da maturidade de Verdi:Aída, Otelo, Falstaff.


ORIGEM E ACOLHIDA – Depois de Rigoletto Il Trovatore, La Traviata é a terceira grande obra-prima de Verdi. A peça (originalmente uma novela) de Dumas reconstitui a história de amor entre o autor e uma célebre cortesã, Marie Duplessis, que também foi amada por Alfred de Musset e Franz Liszt. Essa ópera foi um verdadeiro fracasso, por causa do tema mas também dos intérpretes: a cantora que interpretava Violetta era uma senhora gorda de muito boa saúde, e era difícil acreditar que ela morria de tuberculose. O fracasso e o escândalo logo se transformaram em sucesso. Hoje, é uma das óperas mais populares do repertório. Ela inspirou um filme do cineasta Franco Zefirelli, em 1982.


GRAVAÇÃO RECOMENDADA – EMI 7491878 (gravação ao vivo mono): Orquestra do Scala de Milão. Dir. Franco Ghione. Maria Callas (Violetta), Alfredo Kraus (Alfredo), Mario Sereni (Germont).


Texto retirado do livro “Guia da Ópera”.

SUHAMY, Jeanne. Guia da Ópera. Tradução de Paulo Neves Fonseca. Porto Alegre: L&PM, 2007. 256p. (Coleção L&PM Pocket)