Em comemoração aos 200 anos de nascimento de Verdi, e 160 anos
da estréia de La Traviata, o Programa de Extensão VivaVoz (UDESC), apresenta
uma versão desta ópera num projeto que envolve professores e alunos dos
Departamentos de Música, Moda e Cênicas, Coro e Orquestra acadêmica da UDESC,
além de participantes da comunidade externa.
É
uma montagem acadêmica, com foco no processo de criação e na busca por
diferenciais estéticos. Enfatiza-se o percurso de pesquisa e desenvolvimento
(individual e coletivo) durante o projeto, que culmina na apresentação da
ópera, sem ser esse seu único objetivo.
As récitas serão no Palácio Cruz e
Sousa – Museu Histórico de Santa Catarina, cuja arquitetura
revela-se ideal para nossa concepção desta ópera.
A ideia é apresentar outra visão dos espetáculos de ópera (em
geral, grandiosos e distantes), colocando o público praticamente dentro da
cena. Saindo dos espaços tradicionais - grandes teatros - valoriza-se o caráter intimista propício ao envolvimento com a história e com o gênero.
Concepção Musical e Cênica
Concepção Musical e Cênica
Por ser
uma montagem acadêmica e pioneira na UDESC, optamos por alguns cortes na
partitura original, reduzindo a obra em um terço. Um dos critérios principais,
foi sublinhar a dramaturgia em seus pontos essenciais, ou seja, manter
unicamente a estrutura musical necessária para contar a história.
Nossa
concepção parte de uma mirada contemporânea da obra, e não se concentra na
caracterização dos costumes da época nem adota a estrutura completa do libretto. Nesta Traviata,
o fio condutor se dá a partir do olhar da criada Annina: é através das suas
lembranças que a história de Violetta toma forma. Em cena, uma realidade
permeada por três camadas de tempo: o tempo presente (Annina); o tempo da
memória (Violetta, Alfredo e Germont); e o tempo do sonho/pesadelo (evocado
pelo coro).
A
memória reconstrói o fato vivido na mente e no corpo do indivíduo, com lacunas
e às vezes até mesmo irrealidades. Por isso, a evocação da história de Violetta
não tem caráter documental, nem fidelidade jornalística com os acontecimentos
passados. Por isso, a liberdade em realizar cortes musicais, ou mesmo um
sutil deslocamento de motivos melódicos, em momentos chave.
Os
personagens são desenhados pela música de Verdi com esmerada caracterização
psicológica, aqui realçada pela redução da dramaturgia. Os amantes
Violetta e Alfredo vivem em antagonismo com diversas forças: Germont, o pai de
Alfredo, simboliza o forte peso da sociedade (de qualquer época), e determina
todos os movimentos do casal para a construção de seu final trágico;
a condição feminina de Violetta, a representação da mulher ‘livre’, num destino
conduzido por homens, tanto quanto o destino das demais mulheres; e a doença,
força inexorável que arrasta a obra em plano inclinado, um universo de solidão,
fragilidade e delírio.
O
Espaço
A
escolha do espaço intimista dialoga com o desejo de contar uma história privada
com a proximidade do segredo entre público e cantores. O espaço vazio, a
economia dos objetos e dos figurinos procura realçar o corpo e a voz na cena. A
memória é fugidia, inconstante, assim como o papel, o movimento dos corpos, a
transitoriedade da vida: uma vez desfeitas as taças, acaba-se a festa, uma vez
dispersado o coro, impera a solidão. A cena é habitada apenas pelo essencial
com o intuito de simplificar a moldura: na austeridade do espaço vazio, o público
se torna testemunha e cúmplice do processo.
La Traviata é uma história atemporal
de redenção pelo amor e morte, que pode ser lida enfatizando seu aspecto
heróico, trágico, ou simplesmente humano.
Sejam
todos bem vindos e um bom espetáculo!